quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Homilia do Papa: São Paulo, exemplo de amor a Cristo

Papa Francisco celebrou uma Santa Missa, na manhã desta quinta-feira, na Capela São Sebastião, no interior da Basílica Vaticana, onde está sepultado o bem-aventurado João Paulo II.
Todas as quintas-feiras, um grupo de fiéis poloneses participa da celebração Eucarística, na Capela São Sebastião, onde descansam os restos mortais de seu compatriota Karol Wojtyla. Mas, hoje, a celebração foi presidida pelo Papa Francisco, que pronunciou uma homilia, partindo das leituras da Liturgia do dia.
Em sua reflexão, o Santo Padre destacou dois aspectos principais: a “segurança de São Paulo”, em relação ao amor a Cristo, e a “tristeza de Jesus” em relação a Jerusalém.
A respeito da “segurança de Paulo”, o Bispo de Roma citou as palavras do próprio Apóstolo: “Ninguém poderá me separar do amor de Cristo”, Com efeito, Paulo amava tanto o Senhor, porque o havia visto, encontrado e mudado a sua vida por ele, a ponto de declarar este seu amor inseparável a Cristo.
Por causa deste amor, o Senhor tornou-se o centro da sua vida; nada o separou do amor a Cristo: nem as perseguições, as enfermidades, as traições, todas as vicissitudes da sua vida. O amor a Cristo era seu ponto de referência. E o Papa acrescentou:
Sem o amor de Cristo, sem viver este amor, sem reconhecê-lo, nutrir-nos deste amor, não podemos ser cristãos. O cristão é aquele que se sente atraído pelo olhar do Senhor, se sente amado e salvo pelo Senhor até o fim”.
Depois desta relação de amor de Paulo com Cristo, o Pontífice citou um segundo aspecto, extraído da Liturgia da Palavra de hoje: a “tristeza de Jesus” ao olhar Jerusalém e ao chorar por ela. Jerusalém não havia entendido o amor e a ternura de Deus. Ela não soube ser fiel a Jesus, não se deixou amar e tampouco amou o Senhor. Aliás, o rejeitou. E o Papa explicou:
Estes dois ícones de hoje: por um lado, Paulo, que permaneceu fiel ao amor de Jesus, até o fim, suportando tudo por amor. Não obstante, sentia-se pecador, mas, ao mesmo tempo amado pelo Senhor. Por outro, a cidade e o povo infiel, que não aceita o amor de Jesus ou o aceita à metade, segundo a própria conveniência”.
Por isso, o Bispo de Roma exortou os fiéis presentes na celebração Eucarística, a imitarem a figura de São Paulo, a sua coragem, que vem do amor a Jesus; a contemplarem a fidelidade do Apóstolo e a infidelidade de Jerusalém. E concluiu: que o bem-aventurado João Paulo II nos ajude a imitar o amor que o Apóstolo Paulo nutria por Jesus.


FONTE: Santa sé

Dia Nacional da Juventude

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terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Gratuito



Li uma vez e não me sai da cabeça um texto da escritora Clarice Lispector sobre esse improviso que salva a vida: ela chama-lhe acertadamente o "ato gratuito". Talvez se deva começar por explicar aquilo que o "ato gratuito" não é. Ele não é mais uma estação da ofegante luta pela vida que quotidianamente nos traz mobilizados. Ele não é a necessária corrida ao trabalho, aos bens, ao consumo, aos horários implacáveis, aos transportes que não dormem. Nem se pode identificar sequer com os pequenos prazeres que nos damos, os lazeres, as viagens programadas, as recompensas disto e daquilo. O "ato gratuito" não tem preço: por definição, não se compra nem se paga.

É sempre uma sede de liberdade que nos acorda para o gratuito. E não uma liberdade disto e daquilo. Eu diria: é antes, uma pura liberdade de ser, de sentir-se vivo; uma expansão da alma, não condicionada pela avareza das convenções; uma urgência não de dons, mas de dom. Hoje, por exemplo, uma amiga procurou-me para que eu lhe indicasse um voluntariado. Ela nem tem muito tempo, dedicada a um emprego absorvente e complexo, com os filhos numa idade em que dependem muito dela. «Talvez só possa dar duas horas de quinze em quinze dias» - disse-me. E eu retorqui-lhe, sorrindo: «Duas horas podem ser uma imensidão». Na verdade, não é o tempo o mais importante. O essencial é deixar que se formule no interior de nós e que se expresse livremente o "ato gratuito".

O serviço aos outros é um excelente exemplo do gratuito. Mas em relação a nós próprios ele tem igualmente de existir. No texto que li de Clarice Lispector ela conta: «Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. "Que rua?", perguntou ele. "O senhor não está entendendo", expliquei-lhe, "não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro." Não sei porquê, olhou-me um instante com atenção.
Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de felicidade. Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver». 

Uma vez vi grafitada, num muro, uma pergunta: «Acreditam na vida antes da morte?». Foi um baque para mim. Claro que alarga infinitamente o horizonte acreditar que há vida depois da morte. Porém, se eu, por algum motivo, desistir de confiar que existe vida (isto é, possibilidade de vida verdadeira) antes da minha morte, tudo fica estranho, escuro e perdido. 

O "ato gratuito" é um gesto que nos salva. Uma das mais belas orações que conheço foi aquela encontrada entre os pertences pessoais de um judeu, morto num campo de concentração. Diz o seguinte: «Senhor, quando vieres na Tua glória, não Te lembres somente dos homens de boa vontade; lembra-Te também dos homens de má vontade. E, no dia do Julgamento, não Te lembres apenas das crueldades e violências que eles praticaram: lembra-Te também dos frutos que produzimos por causa daquilo que eles nos fizeram. Lembra-Te da paciência, da coragem, da confraternização, da humildade, da grandeza de alma e da fidelidade que os nossos carrascos acabaram por despertar em cada um de nós. Permite então, Senhor, que os frutos em nós despertados  possam servir também para salvar esses homens».


José Tolentino Mendonça
padre e poeta português
(texto originalmente publicado no SNPC 16.08.2012)

FONTE: Catequese Hoje

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Papa Francisco: Bento XVI fez Teologia "de joelhos", seus livros despertam a fé

Os livros sobre Jesus escritos por Bento XVI permitiram descobrir ou reforçar a fé em muitas pessoas e abriu uma nova estação de estudos sobre o Evangelho. Foi a consideração central expressa este sábado pelo Papa Francisco, que condecorou dois teólogos – um inglês e um alemão – com o "Prêmio Ratzinger". Promovido pela Fundação Vaticana "Joseph Ratzinger-Bento XVI", o Prêmio este ano chega à sua terceira edição.
Não há dúvida que fizeram bem a muitos, quer estudiosos ou pessoas simples, próximos ou distantes de Cristo. Esse é o resultado dos três livros sobre Jesus de Nazaré, escritos por Bento XVI entre 2007 e 2012, e em geral o bem feito por sua sabedoria teológica, antes fruto de oração que de empenho intelectual.
Francisco reconheceu isso e o celebrou publicamente no dia e no contexto mais apropriados, junto a dois teólogos – o inglês Richard Burridge e o alemão Christian Schaller – que receberam das mãos do Pontífice o Prêmio dedicado ao Papa emérito.
A entrega do chamado "Nobel da Teologia – como desde a sua instituição, em 2010, é considerado o Prêmio Ratzinger –, ofereceu ao Santo Padre a ocasião para uma reflexão pessoal sobre o valor da trilogia escrita por Bento XVI-Joseph Ratzinger.
Recordando a admiração de alguns diante de textos que não eram exatamente do magistério ordinário, o Papa Francisco observou:
"Certamente o Papa Bento se interrogou sobre a questão, mas também nesse caso, como sempre, ele seguiu a voz do Senhor em sua consciência iluminada. Com esses livros ele não fez um magistério em sentido próprio, e não fez um estudo acadêmico. Ofereceu à Igreja e a todos os homens o que tinha de mais precioso: seu conhecimento acerca de Jesus, fruto de anos e anos de estudo, de aprofundamento teológico e de oração – porque Bento XVI fazia teologia de joelhos, e todos sabemos disso –, e colocou esse conhecimento à disposição na forma mais acessível."
"Todos nós temos uma certa percepção, por ter ouvido muitas pessoas que graças aos livros sobre Jesus de Nazaré alimentaram a sua fé, a aprofundaram, ou até mesmo pela primeira vez se aproximaram de Jesus de modo adulto, conjugando as exigências da razão com as da busca do rosto de Deus.
Francisco parabenizou os vencedores do Prêmio Ratzinger 2013, e o fez também em nome de Bento XVI – com o qual disse ter-se encontrado "quatro dias atrás" –, despedindo-se deles com as seguintes palavras: "O Senhor abençoe sempre vocês e seu trabalho a serviço de Seu Reino". 


FONTE: Santa Sé

Homilia do Papa Francisco na Missa pelas Famílias, no Ano da Fé (Domingo, 27 de Outubro de 2013)

As leituras deste domingo nos convidam a meditar sobre algumas características fundamentais da família cristã.
    A primeira: a família reza. A passagem do Evangelho destaca dois modos de rezar: um falso – o do fariseu – e outro autêntico – o do publicano. O fariseu encarna uma postura que não expressa tanto agradecimento a Deus pelos seus benefícios e pela sua misericórdia, como, sobretudo, autossatisfação. O fariseu se sente justo, se sente com a consciência tranquila, se vangloria disto e julga os demais do alto do seu pedestal. O publicano, ao contrário, não multiplica as palavras. A sua oração é humilde, sóbria, permeada pela consciência da própria indignidade, das próprias misérias: este homem verdadeiramente se reconhece necessitado do perdão de Deus, da misericórdia de Deus.

A oração do publicano é a oração do pobre, é a oração agradável a Deus que, como fala a primeira leitura, subirá até as nuvens (cf. Eclo 35, 20), enquanto a oração do fariseu está sobrecarregada pelo peso da vaidade.
À luz desta Palavra, queria vos perguntar, queridas famílias: Rezais algumas vezes em família? Alguns, eu sei que sim. Mas, muitos me perguntam: Mas, como se faz é possívelFaz-se como o publicano, está claro: com humildade, diante de Deus. Cada um com humildade se deixa olhar pelo Senhor e pede a sua bondade, que venha até nós. Mas, na família, como se faz? Porque parece que a oração é seja uma coisa pessoal; além disso, nunca se encontra um momento oportuno, tranquilo, em família... Sim, isso é verdade, mas é também questão de humildade, de reconhecer que precisamos de Deus, como o publicano! E todas as famílias, todos nós precisamos de Deus: todos, todos! Há necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua bênção, da sua misericórdia, do seu perdão. E é preciso simplicidade: para rezar em família, é necessária simplicidade! Rezar juntos o “Pai Nosso”, ao redor da mesa, não é algo extraordinárioé fácil. isso se pode fazer. E rezar juntos o Terço, em família, é muito belo; dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa; a esposa pelo marido; os dois pelos filhos; os filhos pelos pais, pelos avós... Rezar um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto fortalece a família: a oração.

    A segunda Leitura nos sugere outro ponto: a família guarda a fé. O apóstolo Paulo, no ocaso da sua vida, faz um balanço fundamental, e diz: «guardei a fé» (2Tm 4,7). Mas, como a guardou? Não em um cofre! Nem a escondeu debaixo da terra, como o servo um poucopreguiçoso dos talentos. São Paulo compara a sua vida com uma batalha e com uma corrida. Guardou a fé, porque não se limitou a defendê-la, mas a anunciou, irradiou-a, levou-a longe. Opôs-se de modo decidido àqueles que queriam conservar, “embalsamar” a mensagem de Cristo nos limites da Palestina. Por isso, tomou decisões corajosas, penetrou em territórios hostis, deixou-se atrair pelos que estavam longe, por culturas diferentes, falou francamente, sem medo. São Paulo guardou a fé, porque, como a tinha recebido, assim a entregou, dirigindo-se às periferias, sem se fincar em posições defensivas.

Aqui também, podemos nos perguntar: De que modo nós, em família, guardamos a nossa fé? Conservamo-la para nós mesmos, na nossa família, como um bem privado, como uma conta no banco, ou sabemos partilhá-la com o testemunho, com o acolhimento, com a abertura aos demais? Todos sabemos que as famílias, sobretudo as jovens famílias, estão frequentemente “correndo”, muito atarefadas; mas já pensastes alguma vez que esta “corrida” pode ser também a corrida da fé? As famílias cristãs são famílias missionárias. Ontem escutamos, aqui na praça, o testemunho de famílias missionárias. Elas são missionárias também na vida quotidiana, fazendo as coisas de todos os dias, colocando em tudo o sal e o fermento da fé!Guardai a fé em família e colocai o sal e o fermento da fé nas coisas de todos os dias.
    E há um último aspecto que tiramos da Palavra de Deus: a família vive a alegria. No Salmo Responsorial, encontramos esta expressão: «ouçam os humildes e se alegrem» (33,4). Todo este Salmo é um hino ao Senhor, fonte de alegria e de paz. Qual é o motivo desta alegria? É este: o Senhor está perto, escuta o grito dos humildes e os liberta do mal. Como escrevia São Paulo: «Alegrai-vos sempre... O Senhor está próximo!» (Fl 4,4-5). Pois bem... gostaria de fazer uma pergunta hoje. Mas, cada um leva esta pergunta no seu coração, para a sua casa, certo? É como um dever de casa. E responde-se sozinho. Como se vive a alegria, na tua casa? Como se vive a alegria na tua família? Bem, dai vós mesmos a resposta.

Queridas famílias, como bem sabeis, a verdadeira alegria que se experimenta na família não é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis... A alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração, e que nos faz sentir a beleza de estarmos juntos, de nos apoiarmos uns aos outros no caminho da vida. Mas, na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus, a presença de Deus na família, está o seu amor acolhedor, misericordioso, cheio de respeito por todos. E, acima de tudo, um amor paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, na família, a ter este amor paciente, um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor paciente. Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, se apaga a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.
Queridas famílias, vivei sempre com fé e simplicidade, como a Sagrada Família de Nazaré. A alegria e a paz do Senhor estejam sempre convosco!


Fonte: Santa Sé

Na Missa conclusiva da Peregrinação das Famílias, Papa aponta três características fundamentais da família cristã: rezar, conservar a fé, viver a alegria

A oração familiar é a primeira caraterística fundamental da vida de uma família cristã, disse o Papa Francisco na homilia da celebração eucarística de conclusão da Peregrinação das Famílias no Ano da fé, esta manhã na Praça de S. Pedro repleta de fiéis e famílias provenientes das diversas partes do mundo.  

O texto do Evangelho deste domingo, disse o Papa, põe em evidência dois modelos de oração: um que é um modelo falso, o do fariseu e o outro modelo que é o autêntico, o do publicano. O fariseu encarna uma atitude que não exprime ação de graças a Deus pelos seus benefícios e pela sua misericórdia, mas sim a auto-satisfação. De facto, o Fariseu se considera justo, bondoso e fortificado deste seu ser justo e bondoso ele julga os outros. O publicano pelo contrário, não multiplica as palavras, a sua oração é simples e humilde porque permeada pela consciência da própria indignidade , da sua miséria humana e por isso desejoso do perdão e da misericórdia de Deus.
"Rezais algumas vezes em família? Algumas famílias o fazem certamente. Mas tantos perguntam-me: como se faz para rezar juntos em família? A oração é algo de pessoal e por outro lado não se encontra nunca um tempo apropriado, tranquilo para o efeito etc. Sim, é verdade, mas é também uma questão de humildade, de reconhecer que, tal como o publicano, também nós temos necessidade de Deus. Todas as famílias precisam de Deus, da sua misericórdia. E é preciso simplicidade! Rezar juntos a oração do Pai nosso durante as refeições. Isso é possivel e não requer algo de extraordinário. Recitar juntos o terço em família é bonito, dá tanta força e rezar uns para os outros. A oração fortifica a família".
A segunda caraterística fundamental da vida de uma família cristã, disse o Papa, é a família como santuário da fé, o lugar onde se conserva a fé. Na segunda Carta à Timóteo, o apostolo Paulo afirma ter conservado a fé. Mas como a conservou, perguntou ainda o Papa Francisco?
"Não num cofre. Não a escondeu num lugar subterrâneo como fez o servo preguiçoso. S. Paulo comparou a sua vida àquela de uma batalha e de corrida. Ele conservou a fé porque não se limitou a defendê-la, mas anunciou-a irradiou-a, levou-a aos confins da terra. Ele se opôs decididamente, de forma vigorosa a todos aqueles que a queriam conservar, aqueles que queriam embalsamar a mensagem de Cristo limitando-a aos meros confins da Palestina. Por isso ele fez opções corajosas, foi para territórios hostís, deixou-se provocar por todos aqueles que viviam em lugares longínquos, de culturas diferentes, falou com franqueza sem medo. S. Paulo conservou a fé porque tal como a recebeu, doou-a, andando nas periferias e sem nunca permanecer nas posições defensivas".
Daí, que também a partir deste exemplo de S. Paulo, cada família pode perguntar-se: de que maneira nós preservamos a nossa fé? A conservamos só para nós, nas nossas famílias como um bem privado, um conto bancário ou somos capazes de partilhá-la mediante o testemunho da nossa vida de acolhimento, de abertura aos outros. Recordando por conseguinte o frenesim das famílias jovens desta nossa era, o Papa chamou a atenção para o facto que também nesta corrida pode haver espaço para uma outra corrida, um frenesim da fé”.
Finalmente, o Papa Francisco salintou como terceira caraterística da vida da família cristã, a alegria: a família como lugar da vida na alegria. E neste sentido disse o Papa:
"A verdadeira alegria que se vive na família não é algo de superficial, não provém das coisas, das circunstâncias mais ou menos favoráveis. A verdadeira alegria provém da harmonia profunda que reina entre pessoas, aquela alegria que todos sentem no fundo do seu coração e que os faz viver a beleza de estarem juntos, ajudarem-se mutuamente no caminho da vida. Mas na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus na família, o seu amor misericordioso, respeitoso de todos. Só Deus sabe criar a harmonia das diferenças".
Neste sentido o Papa recordou a todos que quando falta o amor de Deus também a família corre o risco de perder a harmonia, prevalendo por conseguinte no seio familiar, o individualismo que é sinal do fim da alegria. Por isso é necessário, exortou ainda o Papa, que as famílias vivam sempre com fé e simplicidade como a Sagrada Família de Nazaré.

No final da celebração, o Santo Padre dirigiu-se, em oração, num “olhar de admiração e confiança”, à Sagrada Família de Nazaré, nela contemplando – disse – “a beleza da comunhão do amor verdadeiro” e recomendando todas as famílias.
À Família de Nazaré, “atraente escola do santo Evangelho”, o Papa pediu que a todos ensine uma “sapiente disciplina espiritual”, dando “o olhar límpido que sabe reconhecer a obra da Providência nas realidades quotidianas da vida”.
A oração do Papa a Jesus, Maria e José prosseguiu invocando da Sagrada Família “a estima do silêncio” que torne as famílias “cenáculos de oração, transformando-as em pequenas Igrejas domésticas, renovando o desejo de santidade, mantendo a nobre fadiga do trabalho, da educação, da escuta, da compreensão recíproca e do perdão”.
E concluiu nos seguintes termos:
“Sagrada Família de Nazaré, restabelece na nossa sociedade a consciência do carácter sagrado e inviolável da família, bem inestimável e insubstituível.
Que cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz para as crianças e para os idosos, para quem está doente ou sozinho, para quem é pobre e necessitado.
Jesus, Maria e José, nós vos rezamos confiadamente,
a vós nos confiamos com alegria."
E ainda antes de concluir a celebração com a bênção final, o Santo Padre dirigiu uma saudação afetuosa a “todos os peregrinos, especialmente a vós, queridas famílias, vindas de tantos países”…
Saudou também expressamente os Bispos e fiéis da Guiné Equatorial, vindos a Roma por ocasião da ratificação do Acordo com a Santa Sé:
“Que a Virgem Imaculada proteja o vosso amado povo e vos obtenha a graça de progredir no caminho da concórdia e da justiça”
Introduzindo a recitação da tradicional oração do Angelus, o Papa quis confiar especialmente à Virgem “as famílias do mundo inteiro, de modo particular as que vivem situações de maior dificuldade”.
E repetiu, por três vezes, com a imensa assembleia presente na Praça de São Pedro: “Maria, Rainha das Famílias, rogai por nós!”
Já depois da bênção, o Papa desejou a todos bom domingo e… um bom almoço…


FONTE: Santa Sé

São Simão e São Judas Tadeu

Celebramos na alegria da fé os apóstolos São Simão e São Judas Tadeu. Os apóstolos foram colunas e fundamento da verdade do Reino.
São Simão:
Simão tinha o cognome de Cananeu, palavra hebraica que significa “zeloso”.
Nicéforo Calisto diz que Simão pregou na África e na Grã-Bretanha. São Fortunato, Bispo de Poitiers no fim do século VI, indica estarem Simão e Judas enterrados na Pérsia.
Isto vem das histórias apócrifas dos apóstolos; segundo elas, foram martirizados em Suanir, na Pérsia, a mando de sacerdotes pagãos que instigaram as autoridades locais e o povo, tendo sido ambos decapitados. É o que rege o martirológio jeronimita.
Outros dizem que Simão foi sepultado perto do Mar Negro; na Caucásia foi elevada em sua honra uma igreja entre o VI e o VIII séculos. Beda, pelo ano de 735, colocou os dois santos no martirológio a 28 de outubro; assim ainda hoje os celebramos.
Na antiga basílica de São Pedro do Vaticano havia uma capela dos dois santos, Simão e Judas, e nela se conservava o Santíssimo Sacramento.
São Judas Tadeu:
Judas, um dos doze, era chamado também Tadeu ou Lebeu, que São Jerônimo interpreta como homem de senso prudente. Judas Tadeu foi quem, na Última Ceia, perguntou ao Senhor:“Senhor, como é possível que tenhas de te manifestar a nós e não ao mundo?” (Jo 14,22).
Temos uma epístola de Judas “irmão de Tiago”, que foi classificada como uma das epístolas católicas. Parece ter em vista convertidos, e combate seitas corrompidas na doutrina e nos costumes. Começa com estas palavras: “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados e amados por Deus Pai, e conservados para Jesus Cristo: misericórdia, paz e amor vos sejam concedidos abundantemente”. Orígenes achava esta epístola “cheia de força e de graça do céu”.
Segundo São Jerônimo, Judas terá pregado em Osroene (região de Edessa), sendo rei Abgar. Terá evangelizado a Mesopotâmia, segundo Nicéforo Calisto. São Paulino de Nola tinha-o como apóstolo da Líbia.
Conta-se que Nosso Senhor, em revelações particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu.
Santa Brígida refere que Jesus lhe disse que recorresse a este apóstolo, pois ele lhe valeria nas suas necessidades. Tantos e tão extraordinários são os favores que São Judas Tadeu concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas desesperadas.
São Judas é representado segurando um machado, uma clava, uma espada ou uma alabarda, por sua morte ter ocorrido por uma dessas armas.
São Simão e São Judas Tadeu, rogai por nós!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Santo Antônio de Sant’Anna Galvão

Conhecido como “o homem da paz e da caridade”, Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu no dia 10 de maio de 1739, na cidade de Guaratinguetá (SP).
Filho de Antônio Galvão, português natural da cidade de Faro em Portugal, e de Isabel Leite de Barros, natural da cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo. O ambiente familiar era profundamente religioso. Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política.
O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou Antônio, com a idade de 13 anos, à Bahia, a fim de estudar no seminário dos padres jesuítas.
Em 1760, ingressou no noviciado da Província Franciscana da Imaculada Conceição, no Convento de São Boaventura do Macacu, na Capitania do Rio de Janeiro. Foi ordenado sacerdote no dia 11 de julho de 1762, sendo transferido para o Convento de São Francisco em São Paulo.
Em 1774, fundou o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência, hoje Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição.
Cheio do espírito da caridade, não media sacrifícios para aliviar os sofrimentos alheios. Por isso o povo a ele recorria em suas necessidades. A caridade de Frei Galvão brilhou, sobretudo, como fundador do mosteiro da Luz, pelo carinho com que formou as religiosas e pelo que deixou nos estatutos do então recolhimento da Luz. São páginas que tratam da espiritualidade, mas em particular da caridade de como devem ser vivida a vida religiosa e tratadas as pessoas de dentro e de fora do “recolhimento”.
Às 10 horas do dia 23 de dezembro de 1822, no Mosteiro da Luz de São Paulo, havendo recebido todos os sacramentos, adormeceu santamente no Senhor, contando com seus quase 84 anos de idade. Foi sepultado na Capela-Mor da Igreja do Mosteiro da Luz, e sua sepultura ainda hoje continua sendo visitada pelos fiéis.
Sobre a lápide do sepulcro de Frei Galvão está escrito para eterna memória: “Aqui jaz Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, ínclito fundador e reitor desta casa religiosa, que tendo sua alma sempre em suas mãos, placidamente faleceu no Senhor no dia 23 de dezembro do ano de 1822″.Sob o olhar de sua Rainha, a Virgem Imaculada, sob a luz que ilumina o tabernáculo, repousa o corpo do escravo de Maria e do Sacerdote de Cristo, a continuar, ainda depois da morte, a residir na casa de sua Senhora ao lado de seu Senhor Sacramentado.
Frei Galvão é o religioso cujo coração é de Deus, mas as mãos e os pés são dos irmãos. Toda a sua pessoa era caridade, delicadeza e bondade: testemunhou a doçura de Deus entre os homens. Era o homem da paz, e como encontramos no Registro dos Religiosos Brasileiros: “O seu nome é em São Paulo, mais que em qualquer outro lugar, ouvido com grande confiança e não uma só vez, de lugares remotos, muitas pessoas o vinham procurar nas suas necessidades”.
O dia 25 de outubro, dia oficial do santo, foi estabelecido, na Liturgia, pelo saudoso Papa João Paulo II, na ocasião da beatificação de Frei Galvão em 1998 em Roma. Com a canonização do primeiro santo que nasceu, viveu e morreu no Brasil, a 11 de maio de 2007, o Papa Bento XVI manteve a data de 25 de outubro.
Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, rogai por nós!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Santo Antônio Maria Claret

[Santo-Antonio-Maria-Claret-e-Clara.jpg]O santo lembrado hoje foi de muita importância para a Igreja que guarda o testemunho de sua santidade, que mereceu a frase do Papa Pio XI que disse: “Antônio Maria Claret é uma figura verdadeiramente grande, como apóstolo infatigável”. Nasceu em 1807 em Sallent (Província de Barcelona – Espanha), ao ser batizado recebeu o nome de Antônio João, ao qual ele veio depois acrescentar o de Maria como sinal de sua especial devoção à Santíssima Virgem: “Nossa Senhora é minha Mãe, minha Madrinha, minha Mestra, meu tudo, depois de Cristo”.
Antônio Maria ajudou o pai numa fábrica de tecidos até os 22 anos, quando entrou para o seminário de vida, pois almejava um sacerdócio santo e como padre desejou consagrar-se nas difíceis missões da Espanha. Ao ver a pobreza dos missionários e as portas se abrindo, Antônio Maria, com amigos, tratou de fundar a “Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria”, conhecidos como Claretianos.
O Carisma era evangelizar todos os setores, por meio da caridade de Cristo que constrangia, por isso dizia: “Não posso resistir aos impulsos interiores que me chamam para salvar almas. Tenho sede de derramar o meu sangue por Cristo!” Mal tinha fundado a Congregação, o Espírito o nomeou para Arcebispo de Santiago de Cuba, onde fez de tudo, até arriscar a própria vida, para defender os oprimidos da ilha e converter a todos, conta-se que ao chegar às terras cubanas foi logo visitar e consagrar o apostolado à Nossa Senhora do Cobre.
Com os amigos o Arcebispo Santo Antônio Maria Claret, evangelizou milhares de almas, isto através de missões populares e escritos, que chegaram a 144 obras. Fundador das Religiosas de Maria Imaculada, voltou a Espanha, também tornou-se confessor e conselheiro particular da rainha Isabel II; participou do Concílio Vaticano I, e ao desviar-se de calúnias retirou-se na França onde continuou o apostolado até passar pela morte e chegar na glória em 24 de outubro de 1870.
Foi beatificado em 1934 pelo Papa Pio XI e canonizado por Pio XII em 1950. Pelo seu amor ao Imaculado Coração de Maria e pelo seu apostolado do Rosário, tem uma estátua de mármore no interior da Basílica de Fátima.
Santo Antônio Maria Claret, rogai por nós!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

São João de Capistrano

O santo de hoje fez da ação um ato de amor e do amor uma força para a ação, por isso, muito penitente e grande devoto do nome de Jesus chegou à santidade. João nasceu em Capistrano (Itália), em 1386, e com privilegiado e belos talentos, cursou os estudos jurídicos na universidade de Perusa. Juiz de direito, casado e nomeado governador de uma cidade na Itália, acabou na prisão por causa de intrigas políticas. Diante do sistema do mundo, frágil, felicidade terrena, e após a morte de sua esposa, João quis entrar numa Ordem religiosa. Com este objetivo teve João a coragem de vender os bens, pagar o resgate de sua missão, dar o resto aos pobres e seguir Jesus como São Francisco de Assis. O superior da Ordem, conhecendo os antecedentes de João, o submeteu a duras provas de sua vocação e, por tudo, João passou com humildade e paciência. Ordenado sacerdote consagrou-se ao poder do Espírito no apostolado da pregação; viveu de modo profundo o espírito de mortificação. João de Capistrano enfrentou a ameaça dos turcos contra a Europa e a tentativa de desunião no seio da própria Ordem Franciscana. Apesar de homem de ação prodigiosa e de suas contínuas viagens através de toda a Europa descalço, João foi também escritor fecundo, consumido pelo trabalho.
São João tinha muita habilidade para a diplomacia; era sábio, prudente, e media muito bem seus julgamentos e suas palavras. Tinha sido juiz e governador e sabia tratar muito bem às pessoas. Por isso quatro Pontífices (Martinho V, Eugênio IV, Nicolau V e Calixto III) empregaram-no como embaixador em muitas e muito delicadas missões diplomáticas e com muito bons resultados. Três vezes os Sumos Pontífices quiseram nomeá-lo Bispo de importantes cidades, mas preferiu seguir sendo humilde pregador, pobre e sem títulos honoríficos. Em 1453, os turcos muçulmanos propuseram invadir a Europa para acabar com o Cristianismo. Então São João foi à Hungria e percorreu toda a nação pregando ao povo, incitando-o a sair entusiasta em defesa de sua santa religião. As multidões responderam a seu chamado, e logo se formou um bom exército de crentes. Os muçulmanos chegaram perto de Belgrado com 200 canhões, uma grande frota de navios de guerra pelo rio Danúbio, e 50.000 terríveis jenízaros da cavalo, armados até os dentes. Os chefes católicos pensaram em retirar-se porque eram muito inferiores em número. Mas foi aqui quando interveio João de Capistrano: empunhando um crucifixo, foi percorrendo com ele todas as fileiras, animando os soldados com a lembrança de que iam combater por Jesus Cristo, o grande Deus dos exércitos. tanta confiança e coragem inspirou a presença do santo aos cristãos, que logo ao primeiro ímpeto foi derrotado o exército otomano. Morreu aos 71 anos de idade a 23 de outubro de 1456 e foi beatificado pelo Papa Leão X e solenemente canonizado pelo Papa Alexandre VIII no ano de 1690.
São João de Capistrano, rogai por nós!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

São Lucas

Estamos em festa na liturgia da Igreja, pois lembramos a vida e o testemunho do evangelista São Lucas. Uma figura simpática do Cristianismo primitivo, homem de posição e qualidades, de formação literária e de profundo sentido artístico divino. Nasceu em Antioquia da Síria, médico de profissão foi convertido pelo apóstolo São Paulo, do qual se tornou inseparável e fiel companheiro de missão. Colaborador no apostolado, o grande apóstolo dos gentios em diversos lugares externa a alta consideração que tinha por Lucas, como portador de zelo e fidelidade no coração. Ambos fazem várias viagens apostólicas, tornando-se um dos primeiros missionários do mundo greco-romano. Tornou-se excepcional para a vida da Igreja por ter sido dócil ao Espírito Santo, que o capacitou com o carisma da inspiração e da vivência comunitária, resultando no Evangelho segundo Lucas e na primeira história da Igreja, conhecida como Atos dos Apóstolos. No Evangelho segundo Lucas, encontramos o Cristo, amor universal, que se revela a todos e chama Zaqueu, Maria Madalena, garante o Céu para o “bom” ladrão e conta as lindas parábolas do pai misericordioso e do bom samaritano. Nos Atos dos Apóstolos, que poderia também se chamar Atos do Espírito Santo, deparamos com a ascensão do Cristo, que promete o batismo no Espírito Santo, fato que se cumpre no dia de Pentecostes, e é inaugurada a Igreja, que desde então vem evangelizando com coragem, ousadia e amor incansável todos os povos.
Uma tradição – que recolheu no séc. XIV Nicéforo Calisto, inspirado numa frase de Teodoro, escritor do séc. VI – diz-nos que São Lucas foi pintor e fala-nos duma imagem de Nossa Senhora saída do seu pincel. Santo Agostinho, no séc. IV, diz-nos pela sua parte que não conhecemos o retrato de Maria; e Santo Ambrósio, com sentido espiritual, diz-nos que era figura de bondade. Este é o retrato que nos transmitiu São Lucas da Virgem Maria: o seu retrato moral, a bondade da sua alma. O Evangelho de boa parte das Missas de Maria Santíssima é tomado de São Lucas, porque foi ele quem mais longamente nos contou a sua vida e nos descobriu o seu Coração. Duas vezes esteve preso São Paulo em Roma e nos dois cativeiros teve consigo São Lucas, “médico queridíssimo”. Ajudava-o no seu apostolado, consolava-o nos seus trabalhos e atendia-o e curava-o com solicitude nos seus padecimentos corporais. No segundo cativeiro, do ano 67, pouco antes do martírio, escreve a Timóteo que “Lucas é o único companheiro” na sua prisão. Os outros tinham-no abandonado. O historiador São Jerônimo afirma que Lucas viveu a missão até a idade de 84 anos, terminando sua vida com o martírio. Por isso, no hino das Laudes rezamos:“Cantamos hoje, Lucas, teu martírio, teu sangue derramado por Jesus, os dois livros que trazes nos teus braços e o teu halo de luz”. É considerado o Padroeiro dos médicos, por também ele ter exercido esse ofício, conforme diz São Paulo aos Colossenses (4,14): “Saúda-vos Lucas, nosso querido médico”.
São Lucas, rogai por nós!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

"Salvai-nos da Rigidez!"

“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus...” (Lc 18,2)


Na tradição bíblica, as viúvas são, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, o símbolo das pessoas mais indefesas, as mais pobres entre os pobres. A viúva, de modo especial, é o símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada; ela não tem marido nem filhos que a defendam e não conta com nenhum apoio social. É nesta situação de total abandono que sua vida se converte em um grito: “Faze-me justiça!”.

A conduta e o ensinamento de Jesus foram radicalmente “contraculturais” com relação à mulher. Ele foi um autêntico reformador e inclusive revolucionário. Com sua presença e sua linguagem Jesus visibiliza o mundo vital das mulheres; ao tirá-las do seu anonimato e trazendo-as à luz, Jesus realça e louva os traços característicos da mulher. Na parábola, a viúva é apresentada como modelo de atitude diante de Deus pela sua persistência, pela sua coragem frente a um juiz surdo à voz de Deus e indiferente ao sofrimento dos oprimidos. Ela não desiste, continua lutando por si mesma e por seu direito à vida, indo ao juiz dia após dia.

Lucas apresenta a parábola como uma exortação a orar sem nunca desistir. O Mestre conta a parábola de forma tão envolvente que as pessoas, sobretudo aquelas que perderam toda esperança por ajuda e cura, são novamente encorajadas. Ao despertar nos ouvintes a alegria sobre o poderoso juiz, cuja resistência é vencida pela viúva, convida as pessoas a lidarem de forma diferente com uma situação aparentemente desesperadora. Deus não é surdo aos seus gritos.

Nesse sentido a oração do seguidor de Jesus é “eficaz” porque nos faz viver com fé e confiança no Pai e em atitude solidária com os irmãos. A oração é “eficaz” porque aumenta nossa fé e nos faz mais humanos; abre os ouvidos do coração para escutar a Deus com mais sinceridade, vai purificando nossos critérios e nossa conduta daquilo que nos impede ser irmãos. Ela sustenta nosso viver cotidiano, reanima nossa esperança, fortalece nossa fragilidade, alivia nosso cansaço. Aquele que aprende a dialogar com Deus e a invocá-Lo “sem nunca desistir”, vai descobrindo onde está a verdadeira eficácia da oração e para quê “serve” rezar. Simplesmente para viver.
 
Podemos interpretar também a parábola do juiz e da viúva  como uma imagem do nosso interior: lugar da nossa intuição que nos diz que possuímos um brilho divino, que somos seres originais, filhos e filhos de Deus. Nosso interior representa os sonhos que carregamos durante nossa vida, que nos diz que nossa vida é preciosa e que nele se expressa algum aspecto de Deus. Mas, nosso interior carrega também um tribunal com um juiz frio e insensível, que, numa postura arrogante, nos julga de forma excessivamente dura, e, às vezes nos condena e rejeita constantemente; ele emite juízos taxativos, cortantes, condenatórios, alimentando em nós sentimentos de culpa e impotência.

Ele tem o catálogo de leis nas mãos e é implacável mesmo diante dos mínimos deslizes, distribuindo prêmios (poucos) e castigos (abundância). Em cada um de nós o instinto de julgar está enraizado profundamente; podemos até dizer que todos nascemos portadores de uma cátedra de juiz. Muitos cultivam ardorosamente esta vocação de juiz e encontram abundantes ocasiões para praticar juízos, sobre si mesmos e sobre os outros, submetendo-se a um horário esgotador. Daí a proliferação de “tribunais ambulantes e permanentes”.

No Evangelho, nos encontramos com algumas expressões categóricas que nos convidam a abandonar este ofício bastante perigoso. Muitos, com seu amadurecimento, ficam persuadidos de que existem coisas mais importantes a fazer do que dedicar-se a serem juízes. Embora se trata de uma grave enfermidade, esta “síndrome de juiz” é curável. Existem muitas terapias que podem arrancar a cadeira do juiz e desalojá-lo de seu ofício.

Na parábola da viúva e do juiz injusto Jesus nos mostra como podemos conviver com o juiz interior. Como a viúva, nós nos vemos ameaçados por um inimigo – pode ser um inimigo interior ou exterior ou um padrão de comportamento que não nos permite viver com serenidade e paz. Nesse contexto, o juiz representaria nosso juiz interior, que nos despreza continuamente e nos julga desprezíveis por termos ideais tão altos ou exigências tão ambiciosas para nós mesmos.

Nessa interpretação, a oração também passa a ser o lugar onde nosso interior encontra justiça, onde o juiz interior é desapoderado. Na oração nos tornamos cientes da nossa dignidade como seres humanos, que fomos criados por Deus e que Ele julga capaz de realizarmos nossos desejos. Por meio dela, entramos em contato com a imagem única e singular que o Pai tem de nós, toda auto-depreciação e auto-condenação se dissolvem durante esse momento.

Se orarmos com essa parábola em mente, a nossa oração adquire uma força diferente. Nesse sentido, a oração é o espaço onde a dimensão feminina é despertada através do seu clamor, da sua insistência e perseverança.

O ser humano carrega em si amor e agressão, razão e emoção, gentileza e dureza, juiz e viúva, animus e anima – parte masculina e parte feminina da alma. Muitas vezes vivemos apenas um polo e recalcamos o outro. Enquanto este permanecer nas sombras terá um efeito destrutivo. A arte da humanização consiste na reconciliação da viúva com o juiz interior. Muitos ficam chocados quando, apesar de todo esforço para serem pessoas amáveis e gentis, descobrem em si lados insensíveis, antipáticos, julgadores, ofensivos...
Jesus nos apresenta a oração como caminho para esvaziar o ofício do nosso juiz interior. No espaço da oração experimentamos nosso direito à vida; ali encontramos paz, ajuda e cura. Ao mesmo tempo, a oração nos leva ao espaço interior do silêncio, onde o juiz  é desarmado de sua arrogância.

Com o juiz silenciado, acabam-se os ressentimentos, as violências interiores, os sacrifícios, os juízos, os sentimentos de culpa...  Morre o “juiz” das proibições, das ameaças, dos castigos e da perpétua vigilância sobre nossos atos e intenções. Com isso, nossa vida torna-se mais leve, os medos se vão e a harmonia toma assento em nosso coração.

A parábola nos causa uma transformação, questiona nossa vivência, abrindo espaço para experiências novas. Jesus descreve essa viúva sem perspectivas, como mulher que não desistiu de si mesma. Orar, portanto, significa: não desistir de si mesmo.

Ao mesmo tempo, Jesus revela a imagem de um Deus desprovido de dogmatismos, um Deus desprovido também de controle e arbitrariedade. O Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis que tem necessidade de mandar, controlar, verificar... Basta-lhe a misericórdia, a compaixão... A misericórdia de Deus constitui a resposta à indigência e ao clamor do ser humano. Ela oferece a possibilidade de pôr de lado o julgamento e a condenação. O passado de erros e fracassos é substituído pelo presente de aceitação e perdão.

Onde não há misericórdia, não há sequer esperança para o ser humano. Enquanto o Reino de Deus estiver no nosso meio, o juiz interior não tem nenhuma chance, estamos sãos e salvos, livres dos seus juízos, de suas expectativas e exigências, de suas acusações e sentenças. Nesse espaço ninguém pode nos ferir, nenhum inimigo tem acesso, seja ele interior ou exterior.

Texto bíblico:  Lc 18,1-8

Na oração: “tomar consciência” dos momentos em que o “juiz interior” emite seus “pareceres de morte”, seja na relação consigo mesmo ou com os outros.


Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI
15.10.2013

FONTE: Catequese Hoje