sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Advento: "O Senhor vem!... na sua direção..."

“Pessoalmente, penso que chega um momento na vida da gente em que o único dever é lutar ferozmente para introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de ‘eternidade’.
Rezo, escrevo, amo. Cumpro, suporto, vivo – mas só me interessando pela eternidade”  Guimarães Rosa


Nós cristãos ocidentais, sentimos o tempo como algo vazio, que precisa ser preenchido rapidamente. Vivemos em um “tempo sem tempo”! Um tempo de ter! Um tempo de preencher! Um tempo de excesso de informação circulante e de atividades insensatas (sem sentido)! Um tempo sem eternidade.

Advento nos revela a presença da eternidade no coração do tempo. O Eterno irrompe na história, iluminando a dura rotina e a seqüência do cotidiano. E, no nosso interior, o Eterno tem seu templo. Nesse sentido, é bom considerar que a própria eternidade pode ser sentida como fluir de um presente sem fim, bom para ser vivido a cada instante. Quando a Advento aponta para a eternidade, bem que poderíamos olhar para dentro de nós mesmos. Aí, no nosso interior, há tanto de eterno. A eternidade dialoga com a gente, fala por dentro.

Sem a eternidade do coração que pulsa em nós, que nos unifica e plenifica, a vida se empobrece.
Marcados pelo “tempo vazio” a ser preenchido a todo custo, acabamos por perder a consciência da riqueza do “tempo do Advento”. Tempo forte carregado de sentido, que nos humaniza e nos faz caminhar em direção Àquele que vem vindo... em nossa direção. Tempo que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o encontro com o novo... tempo que nos arranca de nossas rotinas e modos fechados de viver.

Por isso, a sabedoria é “sentir o tempo”. Advento deveria ser um tempo para voltar-nos para o interior em meio à agitação, olhar dentro e perguntar-nos: “presto atenção à história que vivo, às suas dores e à sua beleza? Reconheço seus poderes que desumanizam (augustos, Herodes, quirinos) e a vida vulnerável de Deus que nela se revela, iluminando-a, apesar de tudo?

No Advento, somos iniciados a “sentir o tempo” de um modo novo, a fazer-nos amigos dele, a nomear e acompanhar o tempo que nos toca viver, a habitar com intensidade as diferente etapas de ossa vida. Cada momento esconde sua pérola, e é muito excitante quando chegamos a descobri-la.

É preciso recuperar a força do “hoje” de Deus conosco, reconhecer o “tempo” de sua Vinda, em tempos de deslocamentos. Vislumbramos “algo” no horizonte e percebemos seus passos enquanto chega; e a história é o rumor desses passos. Caminhamos para Ele quanto mais nos adentramos para o fundo de nós mesmos e da realidade. Advento nos convida a “contaminar-nos” da realidade; e isso nos humaniza. O maior enraizado no tempo que nos toca viver significa capacidade de sermos surpreendidos, apesar de tantoas luzes e adornos “de época”, pelos lugares, gestos, rostos ou pessoa nos quais se pode vislumbrar a divindade que se humaniza. O Eterno continua vindo, pelos caminhos mais imprevisíveis.

Somos “seres de travessia” e, quando viajamos, temos em mente a meta final da viagem.

O Advento nos convida a não perder de vista nosso horizonte, nossos objetivos, nosso propósito de investir a vida, desinteressadamente, naquilo que vale a pena. O “fim” determina e dá sentido à vida cristã; em outras palavras, a vida cristã é contínua projeção rumo ao fim.

Cada momento é o “hoje” de Deus; por isso o “fim” está sempre chegando. Quantas coisas acontecem envolvidas pela sombra e pelo mistério do “hoje” e não temos sensibilidade para percebê-las. Enquanto o agricultor descansa, rompe e cresce a semente lançada na escura terra, acompanhada de renovadas expectativas e esperança. No “hoje” se eleva o canto, a palavra que anuncia o Advento, que põe a caminho, que responde pedindo acolhimento, atenção, disponibilidade, partilha.

Eis o mistério: o Esperado traz uma novidade que envolve e que se revela em cada traço de humanidade e em cada fragmento de tempo, deste tempo colocado em nossas mãos.

O tempo, o nosso tempo, é habitado por Aquele que vem; até na noite da desolação, na solidão, no deserto, é possível encontrá-Lo.

Contemplando o “hoje” de Deus, o coração se alarga até o assombroso, os braços se abrem para a acolhida, os pés se movem para o encontro, os olhos se aquecem para o recolhimento.

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI
19.11.2013

FONTE: Catequese Hoje

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Novo reino

Celebrar o Natal é celebrar o novo reino que veio e também está para ser construído.


Celebrar o Natal é celebrar Jesus que está entre nós e também rever nossa vivência sob o critério de sua volta.
Por João Batista Nunes Coelho*

Celebrar o Natal é celebrar o nascimento de Jesus, todo mundo sabe. Mas é só?  Não, é mais. É celebrar Jesus que está entre nós e também rever nossa vivência sob o critério de sua volta. Para se posicionar nesse contexto, a pergunta base: Como ele nos encontrará quando voltar? É essencial. "Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes” (Mt 24,44). Então, pelo modo como vivo, quando eu fechar os olhos para este mundo, terei a graça de ser acolhido pelo Senhor?

Penitência. O que conta diante de Deus é a penitência que cada um faz, como dizia João: "Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus" (Mt 3,1-2). Isso é mais do que cantar os méritos dos outros, viver admirando o que Cristo fez ou o que os santos fizeram. A mudança pessoal de vida é que conta. Já pensou nisso? A conversão nos direciona para um futuro promissor.

Destino. Para onde vamos? Para a eternidade. Todo acontecimento, de pouca ou grande monta, nos direciona para a vinda de Jesus. É para esse encontro que precisamos nos preparar. De que forma? Utilizando instrumentos adequados, transformando os instrumentos que normalmente são utilizados para a morte de pessoas, do planeta, em instrumentos de vida, como quis Jesus. “De suas espadas forjarão relhas de arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se arrastarão mais para a guerra” (Is 2,4). Viu? O profeta nos ensina fundir as espadas para fazer coisas úteis como bicos de arado, foices; convida a  transformar as armas em instrumentos de trabalho, mudar a força de destruição em força de construção, abandonar o individualismo e partir para a colaboração[2]. Resultado? Um mundo mais promissor, ainda que nos últimos tempos.

Últimos tempos.  Quando acontecerão? No final da história? Os "últimos tempos" representam o futuro que já deve estar presente e é também fruto de nossas mãos. Precisamos construí-lo, como o povo hebreu construiu o Templo de Jerusalém. Todavia foi destruído. Que indicam a destruição do Templo e da cidade de Jerusalém? São um sinal de advertência. Indicam que também findaremos. Claro, caminhamos para o fim, desde que nascemos. Os últimos tempos poderão ser, para cada um aos 5 anos de idade, aos 30, aos 90 anos. Ninguém sabe.

Novo mundo. É preciso construir o futuro que queremos para os últimos tempos e depois deles. De que modo podem ser construídos? Fugindo de tudo que não dá sentido à vida. Como saber o que dá e o que dá não sentido à vida? O Senhor "nos ensinará seus caminhos, e nós trilharemos as suas veredas" (Is 2,3). Resta saber: Trilharemos? Depende de nós. O certo é que há uma comunidade ideal a se tornar real. O Natal abre nossos olhos para esta realidade.

Celebrar o Natal é, pois, celebrar o novo reino que veio e também está para ser construído. Como assim? Ele é instaurado pela ação de  cada pessoa, sob a direção de Deus e se estenderá podendo atingir o universo. Estará estendido nos últimos tempos? Depende de cada um e de todos nós. Os “últimos tempos” são o futuro que já está  presente e também que pode ainda acontecer. "Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes" (Mt 24,44).

Que a luz do Natal dê sentido à nossa vida e à construção de um mundo melhor. 


FONTE: Dom Total

Viver em "Estado de Advento"

Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24,42)
 1º Dom. Advento


Advento de novo? Um Advento a mais ou nova oportunidade? Sim, mais uma vez estamos começando o tempo litúrgico do Advento. O risco é vivê-lo como “mera repetição”, como um “tempo parecido” com o tempo anterior.

Na realidade, cada Advento, por mais parecido que seja ao anterior, é totalmente diferente;  ele é original e único, porque as esperanças são novas, os projetos são novos, a vida se renova sempre, o seguimento de Jesus Cristo se aprofunda sempre mais...

Não esqueçamos que o Advento é toda uma possibilidade de vida que temos à frente. Por isso o grande grito deste primeiro domingo é “Vigiai” porque “não sabeis quando virá o vosso Senhor”. Ninguém vigia o passado que já passou e já não existe mais. Vigiamos o que está por vir, o que está vindo. A vigilância olha sempre o futuro. Um futuro que depende de Deus e depende de nós. Porque uma coisa é a ação de Deus em cada um de nós neste tempo do Advento e outra coisa é o que nós fazemos para que algo novo aconteça.

Nós mesmos somos um “advento”, porque nosso futuro humano depende do que esperamos. Haverá aqueles que já não esperam nada. Haverá outros que esperam algo novo, mas duvidam. E haverá aqueles que esperam o novo e dedicam sua vida a criá-lo já agora. Porque em cada momento definimos nossas vidas; em cada momento algo surpreendente pode acontecer em nossa vida; em cada momento nossa vida pode apagar-se ou pode rejuvenescer-se.

No evangelho de hoje, as duas pequenas parábolas insistem na atitude da vigilância. A primeira delas nos adverte com uma intencionalidade clara: o maior inimigo da vigilância é a dispersão, revestida de rotina e apego ao costumeiro (“comer, beber, casar-se”). Viver vigilantes para olhar mais além de nossos pequenos interesses e preocupações. Na segunda, a insistência se situa na importância de “estar vigilante”, porque o que está em jogo é nada menos que a segurança da “casa”, ou seja, a consistência da própria pessoa. Tanto nos sonhos, como nos contos e nas parábolas, a casa é um símbolo arquetípico da pessoa. A partir desta perspectiva, a mensagem de Jesus é um chamado a tomar consciência de quem somos, favorecendo a atitude que nos permite “construir-nos” – a vigilância – e estando atentos àquela outra que nos “rompe” ou arruína – a dispersão.

Podemos compreender melhor o que ambas atitudes indicam quando as relacionamos com a atenção, entendida como a capacidade de viver no momento presente. A dispersão é o estado habitual de quem se encontra identificado com seus pensamentos, sentimentos, emoções ou reações, ignorando sua verdadeira identidade.
 
A vigilância, pelo contrário, refere-se à capacidade de não perder-se no emaranhado dos pensamentos nem cair na armadilha das solicitações externas. Requer, portanto, a atitude própria do sentinela: situado estrategicamente em lugares altos e de amplos horizontes, ele recebe a delicada missão de observar, discernir e anunciar, para defender a vida do povo. Tal missão implica numa vigilância investigadora do horizonte, onde se fazem perceptíveis os “sinais”, ou até mesmo os indícios de que algo importante para a vida do povo está prestes a acontecer. Por isso, o sentinela está treinado para “olhar”  a grandes distâncias, para “olhar”  com precisão. Seu “olhar” investigador, aguçado pelo amor ao povo e a fidelidade à missão, está em alerta permanente.

Graças a essa distância e observação, vamos descobrindo em nós e em nossa realidade sinais de uma Presença que vem, que está vindo... em nossa direção. De fato, onde colocamos nossa atenção, aí estará nossa vida (ou nossa falta de vida). A maneira como focamos nossa atenção é fonte de equilíbrio ou de desequilíbrio, de harmonia ou de desarmonia...

Viver em vigilância contínua é estar em atitude de exploração e rastreamento, é nos deixarmos ser surpreendidos, conduzidos, desafiados e, em última instância, transformados pelo Espírito de Deus.
Precisamente a vigilância é rastrear, descobrir os “espíritos-sopros-inspirações” do Espírito no ritmo da vida cotidiana e em meio á realidade que nos cerca.

Rastrear-descobrir-deixar-se conduzir: este é o movimento do tempo do Advento.

Vivemos num contexto marcado pela “dispersão”, seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativado pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizado por ofertas alucinantes...
E então, nós nos esvaziamos, nos diluimos, perdemos a interioridade e... nos desumanizamos.
A pessoa “dispersa”, por não ter um horizonte de sentido que a atraia, fixa-se no cenário externo, agarra-se ao mundo circundante, apega-se às coisas, na ilusão de alcançar uma segurança almejada. Ela foge de si mesma, tem medo de encontrar-se. Por isso, acompanha o ritmo dos outros, repete a linguagem dos outros, adota os critérios dos outros, e acaba sendo influenciada e dominada por pressões e hábitos externos.

A “dispersão”  corrói a interioridade da pessoa e dissolve aquilo que é mais nobre em seu interior. Longe de uma humanidade dinâmica, operante, ousada... o que a pessoa deixa transparecer é uma humanidade neutra, apática, estagnada; é humanidade lenta, afogada na “normose”, estacionada na repetição dos gestos e dos passos. Ela gira em torno de si mesma e não consegue fazer um salto libertador. Isso tudo leva a pessoa a debilitar-se, provocando a redução da vitalidade humana em vez de favorecer o crescimento pessoal.
“Dispersão” quer dizer estar espalhado, estar ocupado em muitas coisas e em diversas direções ao mesmo tempo, estar ausente, esquecido, dividido, distante, apenas por cima das coisas.
Pessoa “dispersa” é massa anônima empurrada pela multidão, vive na superfície de si mesma, desconectada da fonte interior, desarticulada e ocupada com o que não é essencial.

Advento é tempo propício – “kairós” -  para ajudar a superar nossa “dispersão”  e  poder recuperar a densidade humana interna. Para isso, precisamos entrar em “estado de vigilância”, repensar a interioridade perdida, reconquistar a autodeterminação.
E “vigiar” não é repetir-se, mas re-descobrir-se, re-inventar-se, re-encontrar-se, buscar-se de novo.
“Vigiar” é re-ajuntar as energias humanas que haviam sido dispersas e canalizá-las para reabrir  horizontes fechados e gerar diferenças originais fecundas.
“Vigiar” é acordar a autonomia adormecida e emancipar-se, ser pólo de afirmação pessoal e social. É indispensável colocar “ordem” por dentro e descobrir que a pessoa pode inventar-se a cada dia, a cada passo, conduzindo conscientemente a vida em direção à plenitude e não arrastá-la pelo chão.
Quem está em “estado de vigilância”  tem a coragem de redefinir-se, de eleger, de assumir-se; é alguém preparado para dar um salto arrojado e criativo.

É nessa direção que o “tempo do Advento”, centrado n’Aquele que vem, mobiliza e re-ordena todas as dimensões da vida e propõe um caminho de humanização. Ele desafia cada um a assumir o potencial humano criativo que estava latente em seu interior.

Estar atentos e vigilantes é uma condição humana e cristã para viver intensamente; viver distraídos e dispersos é perder as oportunidades de muitos encontros, é deixar que o outro passe ao nosso lado sem nos darmos conta, é deixar que Deus passe sem que o percebamos, é deixar passar o momento em que Ele nos chama e perdemos a oportunidade de dar uma resposta vivificadora.

Viver é estar atentos à vida, a nós mesmos, aos demais. Viver é estar atentos às ocasiões únicas, às oportunidades que não voltam; viver é estar com os olhos abertos para contemplar, é estar com os ouvidos atentos para escutar.

Texto bíblico:  Mt 24,37-44

Na oração:
-Em quê dimensões da vida você sente a força desagregadora da “dispersão”?
-“Vida atenta” é vida com largos horizontes: neste Advento, o que você está “lendo” no seu horizonte pessoal,  social, profissional, familiar, religioso...?

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI
25.11.2013

FONTE: Catequese Hoje

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quem pratica a misericórdia não teme a morte – o Papa Francisco na audiência-geral desta quarta-feira

Foi uma manhã muito fria que acolheu os milhares de peregrinos na Praça de S. Pedro que vieram a Roma saudar o Papa Francisco. Para levar a termo o ciclo de catequeses sobre o Credo, desenvolvidas durante o Ano da Fé, o Santo Padre tratou hoje e continuará na próxima semana o tema da ressurreição da carne. Hoje sob o prisma da morte em Cristo.
“Há um modo errado de olhar a morte. A morte diz respeito a todos nós e interroga-nos de maneira profunda, especialmente quando nos toca de perto, ou quando atinge os mais pequenos, os indefesos numa maneira que se afigura “escandalosa”. Sempre me impressionou a pergunta: porque sofrem as crianças?, porque morrem as crianças? Se fôr entendido como o fim de tudo, a morte assusta, aterroriza, transforma-se em ameaça que quebra cada um dos sonhos, cada uma das prospetivas, que despedaça cada relação e interrompe cada caminho.”
Existe um modo equivocado de conceber a morte - disse o Santo Padre - para alguns, ela é o fim de tudo, um caminhar para o nada. Esta ideia é típica do pensamento ateu e só pode trazer medo e desilusão. Contudo, cada um de nós, ao perder uma pessoa amada, experimenta a convicção de que não pode ter acabado tudo.
“Há um instinto potente dentro de nós, que nos diz que a nossa vida não acaba com a morte.”
Trata-se de uma sede de vida – considerou o Papa - , uma sede de vida que encontra na ressurreição de Cristo uma resposta real, que garante uma certeza de vida para além da morte.
“Se vivemos unidos a Jesus, fieis a Ele, seremos capazes de enfrentar com esperança e serenidade também a passagem para a morte.”
O Santo Padre considerou então que, precisamente porque cremos que esta vida é uma peregrinação para a vida futura, é necessário estar vigilantes, preparando-nos para a morte, sobretudo, por meio da prática da misericórdia para com os mais fracos e necessitados, com quem Jesus se quis identificar de modo especial. Assim, a nossa morte será uma porta que nos introduzirá no Céu, para a nossa morada junto de Deus.
“Ele próprio identificou-se com eles, na famosa parábola do juízo final, quando diz: “Tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era estrangeiro e acolheste-me, nú e vestiste-me, doente e foste visitar-me, estava preso e vieste encontrar-me... Tudo aquilo que fazeis a um só destes meus irmãos mais pequenos, é a mim que o fazeis.”
“Quem pratica a misericórdia não teme a morte, porque a olha de frente nas feridas dos irmãos e supera-as com o amor de Jesus Cristo.”
No final da audiência o Santo Padre saudou também os peregrinos de língua portuguesa em particular os grupos vindos do Brasil. A todos deu a sua benção.


FONTE: Santa Sé

Dezembro: rezar por vítimas da violência e pela chegada do Senhor

Foram publicadas segunda-feira, 25 as Intenções de Oração do Apostolado da Oração propostas pelo Papa para o mês de dezembro.
Como intenção geral, Francisco sugere “Que as crianças abandonadas ou vítimas de qualquer forma de violência encontrem o amor e a proteção de que necessitam”.
Já a intenção missionária para o último mês do ano é “Que os cristãos, iluminados pelo Verbo Encarnado, preparem a humanidade para a chegada do Senhor”.
O Apostolado da Oração é uma rede mundial de oração e ação para responder aos desafios da humanidade dentro da missão da Igreja. Forma homens e mulheres unidos a Cristo, esclarecidos na própria fé e disponíveis para servir a Igreja em seu ambiente quotidiano. É uma obra confiada pela Santa Sé à Companhia de Jesus, e sua missão principal é a formação de cristãos atentos e comprometidos com as necessidades da Igreja e do Mundo.
Atualmente, mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo unem-se para rezar pelas intenções que o Santo Padre pede à Igreja.


FONTE: Santa Sé

terça-feira, 26 de novembro de 2013

"A alegria do Evangelho": publicada a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual

"A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus": assim inicia a Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium" com a qual o Papa Francisco desenvolve o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje, recolhendo por outro lado a contribuição dos trabalhos do Sínodo que se realizou no Vaticano de 7 a 28 de Outubro de 2012, com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé". "Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos - escreve o Papa - para os convidar a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indicar direcções para o caminho da Igreja nos próximos anos" (1).

O Papa convida a "recuperar a frescura original do Evangelho”, encontrando "novas formas" e "métodos criativos", sem deixarmos enredar Jesus nos nossos "esquemas monótonos" (11). Precisamos de uma "uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão" (25). Requer-se uma "reforma das estruturas" eclesiais para que "todas se tornem mais missionárias" (27) . O Pontífice pensa também numa "conversão do papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades actuais da evangelização". A esperança de que as Conferências Episcopais pudessem dar um contributo para que "o sentido de colegialidade" se realizasse “concretamente” – afirma o Papa - "não se realizou plenamente" (32). E’ necessária uma “saudável descentralização" (16). Nesta renovação não se deve ter medo de rever costumes da Igreja "não directamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns dos quais profundamente enraizados ao longo da história" (43) .
Sinal de acolhimento de Deus é "ter por todo o lado igrejas com as portas abertas" para que os que vivem uma situação de procura não encontrem "a frieza de uma porta fechada". "Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo". O Papa Francisco reafirma preferir uma Igreja "ferida e suja por ter saído pelas estradas, em vez de uma Igreja... preocupada em ser o centro e que acaba por ficar prisioneira num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se algo nos deve santamente perturbar ... é que muitos dos nossos irmãos vivem "sem a amizade de Jesus” (49).

O Papa aponta as "tentações dos agentes da pastoral": o individualismo, a crise de identidade, o declínio no fervor (78). "A maior ameaça" é "o pragmatismo incolor da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede na faixa normal, quando na realidade a fé se vai desgastando" (83). Exorta a não se deixar levar por um "pessimismo estéril " (84 ) e a sermos sinais de esperança (86) aplicando a "revolução da ternura" (88).
O Papa lança um apelo às comunidades eclesiais para não caírem em invejas e ciúmes: “dentro do povo de Deus e nas diversas comunidades, quantas guerras!" (98). "A quem queremos nós evangelizar com estes comportamentos?" (100). Sublinha a necessidade de fazer crescer a responsabilidade dos leigos, mantidos "à margem nas decisões" por um "excessivo clericalismo" (102). Afirma que "ainda há necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", em particular "nos diferentes lugares onde são tomadas as decisões importantes" (103). "As reivindicações dos direitos legítimos das mulheres ... não se podem sobrevoar superficialmente" (104). Os jovens devem ter "um maior protagonismo" (106). (…)

Abordando o tema da inculturação, o Papa lembra que "o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural" e que o rosto da Igreja é "multiforme" (116). "Não podemos esperar que todos os povos ... para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades adoptadas pelos povos europeus num determinado momento da história" (118). O Papa reitera "a força evangelizadora da piedade popular" (122) e incentiva a pesquisa dos teólogos.
O Papa detém-se depois, "com uma certa meticulosidade, na homilia", porque "são muitas as reclamações em relação a este importante ministério e não podemos fechar os ouvidos" (135). A homilia "deve ser breve e evitar de parecer uma conferência ou uma aula " (138), deve ser capaz de dizer "palavras que façam arder os corações", evitando uma "pregação puramente moralista ou para endoutrinar" (142). Sublinha a importância da preparação." (…) O próprio anúncio do Evangelho deve ter características positivas: "proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena" (165).
Falando dos desafios do mundo contemporâneo, o Papa denuncia o actual sistema económico, que "é injusto pela raiz" (59). "Esta economia mata" porque prevalece a "lei do mais forte". A actual cultura do "descartável" criou "algo de novo": “os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘lixo’, 'sobras'" (53). Vivemos uma "nova tirania invisível, por vezes virtual" de um "mercado divinizado", onde reinam a "especulação financeira", "corrupção ramificada", "evasão fiscal egoísta" (56). Denuncia os "ataques à liberdade religiosa" e as "novas situações de perseguição dos cristãos ... Em muitos lugares trata-se pelo contrário de uma difusa indiferença relativista" (61). A família - continua o Papa - "atravessa uma crise cultural profunda.

O Papa reafirma "a íntima conexão entre evangelização e promoção humana" (178 ) e o direito dos Pastores a "emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida das pessoas" (182). "Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas, sem qualquer influência na vida social". "A política, tanto denunciada" - diz ele - "é uma das formas mais preciosas de caridade". "Rezo ao Senhor para que nos dê mais políticos que tenham verdadeiramente a peito ... a vida dos pobres!" Em seguida, um aviso: "qualquer comunidade dentro da Igreja" que se esquecer dos pobres corre "o risco de dissolução" (207) .
O Papa convida a cuidar dos mais fracos: "os sem-tecto, os dependentes de drogas, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados" e os migrantes, em relação aos quais o Papa exorta os Países "a uma abertura generosa" (210 ). "Entre estes fracos que a Igreja quer cuidar" estão "as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana" (213) . "Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre esta questão ... Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana" (214). Neste contexto, um apelo ao respeito de toda a criação: "somos chamados a cuidar da fragilidade das pessoas e do mundo em que vivemos" ( 216) .
Quanto ao tema da paz, o Papa afirma que é "necessária uma voz profética" quando se quer implementar uma falsa reconciliação "que mantém calados" os pobres, enquanto alguns "não querem renunciar aos seus privilégios" (218). Para a construção de uma sociedade "em paz, justiça e fraternidade" indica quatro princípios: "trabalhar a longo prazo, sem a obsessão dos resultados imediatos"; "operar para que os opostos atinjam "uma unidade multifacetada que gera nova vida"; "evitar reduzir a política e a fé à retórica; colocar em conjunto globalização e localização.

"A evangelização - prossegue o Papa - também implica um caminho de diálogo", que abre a Igreja para colaborar com todas as realidades políticas, sociais, religiosas e culturais (238). O ecumenismo é "uma via imprescindível da evangelização". Importante o enriquecimento recíproco: "quantas coisas podemos aprender uns dos outros!". Por exemplo, “no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós os católicos temos a possibilidade de aprender alguma coisa mais sobre o sentido da colegialidade episcopal e a sua experiência de sinodalidade" (246). "O diálogo e a amizade com os filhos de Israel fazem parte da vida dos discípulos de Jesus" (248). "O diálogo inter-religioso", que deve ser conduzido "com uma identidade clara e alegre", é "condição necessária para a paz no mundo" e não obscurece a evangelização (250-251). "Diante de episódios de fundamentalismo violento", a Exortação Apostólica convida a "evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma adequada interpretação do Alcorão se opõem a toda a violência" (253). Contra a tentativa de privatizar as religiões em alguns contextos, o Papa afirma que "o respeito devido às minorias de agnósticos ou não-crentes não se deve impor de forma arbitrária, que silencie as convicções das maiorias de crentes ou ignore a riqueza das tradições religiosas" (255). Reafirma, assim, a importância do diálogo e da aliança entre crentes e não-crentes (257) .
O último capítulo é dedicado aos "evangelizadores com o Espírito", aqueles "que se abrem sem medo à acção do Espírito Santo", que "infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente" (259). Trata-se de "evangelizadores que rezam e trabalham" (262), na certeza de que "a missão é uma paixão por Jesus mas, ao mesmo tempo, uma paixão pelo seu povo" (268): "Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros" (270). "Na nossa relação com o mundo – esclarece o Papa - somos convidados a dar a razão da nossa esperança, mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam" (271). "Pode ser missionário - acrescenta ele - apenas quem busca o bem do próximo, quem deseja a felicidade dos outros" (272): "se eu conseguir ajudar pelo menos uma única pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da minha vida".


FONTE: Santa Sé
http://www.news.va/pt/news/a-alegria-do-evangelho-publicada-exortacao-apostol

Papa: o momento é do homem, o tempo é de Deus

O homem pode acreditar ser soberano do momento, mas somente Cristo é o senhor do tempo. Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da Santa Missa na manhã desta terça-feira, celebrada na Casa Santa Marta. O Papa indicou na oração a virtude para discernir cada momento da vida, e na esperança em Jesus, aquela para olhar para o fim dos tempos.
Dois conselhos para compreender o passar do presente e se preparar para o fim dos tempos: a oração e a esperança. A oração, junto com o discernimento, ajuda a decifrar os momentos individuais da vida e guiá-los para Deus. A esperança é o farol de longo alcance, que ilumina o último pouso, aquele de uma vida e junto - no sentido escatológico - o da final dos tempos. O Papa Francisco reflete sobre o Evangelho do dia, no qual Jesus explica aos fiéis no Templo o que vai acontecer antes do fim da humanidade, assegurando que nem mesmo a pior das tragédias deverá lançar no desespero quem crê em Deus. O Papa observa: “nesta estrada em direção do fim do nosso caminho, cada um de nós, e também de toda a humanidade, o Senhor nos aconselha duas coisas, duas coisas que são diferentes, são diversas de acordo com a forma como vivemos, porque é diferente viver no momento e diferente é viver no tempo”:
E o cristão é um homem ou uma mulher que sabe como viver no momento e que sabe viverno tempo. O momento é o que temos em mãos agora: mas este não é o tempo, esse passa!Talvez possamos nos sentir senhores do momento, mas o engano é acreditar ser senhores do tempo: o tempo não é nosso, o tempo é de DeusO momento está nas nossas mãos e também na nossa liberdade de como vivê-loE mais aindapodemos nos tornar os soberanos do momento, mas do tempo há um só soberano, um só Senhor, Jesus Cristo”.
Portanto, adverte o Papa Francisco citando as palavras de Jesus, não devemos deixar-se “enganar no momento”, porque haverá aqueles que vão se aproveitar da confusão para se apresentarem como Cristo. “O cristão, que é um homem ou uma mulher do momento, deve ter - afirma - essas duas virtudes, esses dois comportamentos para viver o momento: Oração e discernimento”: e acresenta:
“E para conhecer os verdadeiros sinais, para conhecer o caminho que devo tomar nestemomento é necessário o dom do discernimento e a oração para fazê-lo bem. Ao invés, paraolhar o tempo, do qual só o Senhor Jesus Cristo é o mestre, nós não podemos ter qualquervirtude humanaA virtude para olhar o tempo deve ser dada, doada pelo Senhor: é a esperançaOração e discernimento para o momento; esperança para o tempo”.
“E assim - conclui o Papa Francisco – o cristão se move nesta estrada, momento após momento, com a oração e o discernimento, mas deixa o tempo à esperança”:
“O cristão sabe esperar o Senhor em cada momento, mas espera no Senhor no fim dos tempos. Homem e mulher de momento e de tempo: de oração e discernimentoe de esperança. O Senhor nos dê a graça para caminhar com sabedoria, que também é um domd'Ele: a sabedoria que no momento nos leva a rezar e discernirE no tempoque é o mensageiro de Deus, nos faça viver com esperança”.


FONTE: Santa Sé
http://www.news.va/pt/news/papa-o-momento-e-do-homem-o-tempo-e-de-deus